Alega-se nas redes sociais que tossir várias vezes com força pode ajudar a sobreviver a um enfarte. Numa publicação partilhada no Facebook, defende-se que esta prática deve ser adotada perante os sintomas de um ataque cardíaco, por, supostamente, ajudar a “bombear o sangue” e a levar “oxigénio ao cérebro e aos pulmões”. Mas será esta técnica eficaz?

É verdade que tossir com força e várias vezes ajuda a sobreviver a um enfarte?

Em declarações ao Viral, o cardiologista e professor da NOVA Medical School Hélder Dores adianta que a prática de tossir com força e várias vezes “não ajuda a evitar um enfarte agudo do miocárdio” e que “a tosse é completamente irrelevante para a prevenção” de um ataque cardíaco.

O especialista explica que “tossir não permite gerar um débito cardíaco eficaz para manter a perfusão dos órgãos, como o cérebro e os pulmões”. 

Por outras palavras, perante os sinais de um enfarte, tossir não vai ajudar o coração a bombear o sangue de maneira mais eficiente de modo a manter o funcionamento adequado dos órgãos vitais.

Hélder Dores considera que a mensagem partilhada na publicação “é errada” e pode ter origem num equívoco.

“Pode, talvez, resultar de, em situações específicas (como na presença de bradicardia extrema ou em algumas arritmias), se pedir, por vezes, aos doentes que realizem algumas manobras, como tossir ou manobras de Valsalva. A confusão pode decorrer da interpretação errada destas situações”, sustenta.

Como se previne um enfarte?

O cardiologista consultado pelo Viral sublinha que a prevenção de um enfarte inclui medidas como a “estratificação de risco e deteção precoce dos fatores de risco cardiovascular”, a “adoção de um estilo de vida saudável” e a “toma dos medicamentos recomendados e prescritos pelo médico assistente”.

Além disso, prevenir um enfarte passa também pela “identificação dos sintomas e sinais de alarme e, na sua presença, pela adoção imediata de medidas que permitam um rápido diagnóstico e tratamento agudo, que consiste na realização de um cateterismo para desobstrução da artéria coronária que provocou o evento”.

Quais os sintomas de um enfarte? Como agir?

Questionado sobre os sintomas de um enfarte, Hélder Dores aponta que “o principal sintoma é a dor no peito”. 

“A presença de uma dor no peito, intensa, tipo peso ou pressão, no meio ou lado esquerdo do tórax, por vezes com irradiação para o braço, costas, mandíbula ou pescoço, tanto em repouso como precipitada pelo esforço físico ou stress emocional, pode corresponder a um enfarte agudo do miocárdio”, avança.

Perante este sintoma, “a medida imediata deverá ser ligar 112”. Posto isto, “será imediatamente ativada uma viatura de emergência com profissionais que poderão estabelecer o diagnóstico com um eletrocardiograma e transportar o doente para o hospital mais perto com capacidade de cardiologia de intervenção”.

Ou seja, continua o médico, “será realizado um cateterismo que permite identificar a artéria obstruída e realizar imediatamente a sua dilatação, procedimento denominado por angioplastia”.

O especialista lembra que, “quanto mais rápido for ‘aberta’ a artéria, melhor será o prognóstico dos doentes e minorado o risco de complicações e sequelas graves”. Por isso, Hélder Dores deixa um alerta: “não perca tempo a tossir e ligue 112”.

Quanto a outros sintomas, o especialista confirma que “existem casos em que a queixa principal não é a dor no peito”, mas sim “um desmaio, palpitações, taquicardia, falta de ar, etc”. Na dúvida, “na presença destes sintomas, também deverá procurar ajuda médica urgente”, aconselha.

Hélder Dores lembra ainda que, muitas vezes, “a manifestação do enfarte poderá ser uma paragem cardiorrespiratória e morte súbita”. 

“Por isso, sobretudo se tiver fatores de risco cardiovascular (por exemplo: colesterol elevado, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes, sedentarismo, obesidade, etc.), faça avaliações médicas regulares e altere o seu estilo de vida. Desta forma viverá mais e melhor”, conclui.